Esse blog é uma homenagem às minhas avós, às avós do meu filho e a todas as mulheres que tem a doce experiência de serem avós. Acredito que no âmbito familiar poucas coisas são tão saudáveis quanto o estar na casa da vovó, desfutar de sua companhia, de seus quitutes e fazer descobertas diárias sobre o mistério que envolve a distãncia entre as coisas do tempo da vovó e a nossa vida cotidiana, principalmente quando somos crianças.

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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Padre Lima pediu Tia Ail para sair da igreja*

Tia Ail é mesmo uma dondoca. Na verdade, ela é mais prima do que irmã de mamãe. É uma das quatro crianças que Tia Fifina, irmã de Vovó, deixou por aqui para ir ali e, nunca mais buscou...
Quando Vovô morreu, as coisas ficaram um tanto quanto atrapalhadas. Vovó ainda muito jovem, tinha nove filhos legítimos e esses quatro abandonados à sorte, que ela lógico, não iria desamparar. O lado financeiro da família era preocupante, mas tentava dar-se um jeito.  
Certo dia, dona Pia, uma rica senhora que morava na Capital e passava férias na fazenda ao lado, viu Tia Ail. Era uma menina muito bonitinha e da idade de sua filha caçula. Dona Pia propôs à Vovó levar tia Ail para morar com ela e garantiu que a colocaria numa boa escola. O intuito era que sua filha caçula, bem mais nova do que as outras, tivesse uma companhia. Vovó permitiu.
E assim, tia Ail que na época tinha apenas oito anos, passou a ser criada numa casa e em uma cidade de hábitos bem diferentes e modernos. Estavam nos anos sessenta e a ruptura de certos padrões tradicionais aos poucos iam acontecendo. Tia Ail aprendeu a usar mini saia, roupa decotada, maquiagem e quando adolescente ficou muito rebelde e passou também a fumar. 
Depois de concluir seus estudos e não querendo prestar serviços como vendedora na loja da família de dona Pia, resolveu voltar para casa de Vovó, pois a menina para qual ela foi servir de companhia estava prestes a se casar.
Voltou, mas seus hábitos já não eram os mesmos. Começou aí uma sequência de problemas na convivência que passou a ter na nossa comunidade, pois tradição por aqui ainda tinha lugar garantido, e mulheres muito avançadas eram vistas como mulheres "à toa", como dizem ainda Vovó e suas amigas.
O maior escândalo que Tia Ail provocava era com o tamanho da saia que usava. E ainda por cima, pregueada, o que ao vento deixava tudo de fora.
Segundo Vovó, certo dia tia Ail foi à missa da noite. Estava frio, mas a danada da saia ela não largou em casa. 
Entrou e sentou-se bem na frente. Tudo ia bem até que o Padre Lima avistou Tia Ail e arregalou os olhos, dizendo:
- Nós temos no guarda-roupas vestimentas para irmos ao trabalho, para irmos à escola, para irmos às festas e temos que ter também algo adequado para virmos à igreja. A moça que está de mini saia, queira respeitar a casa de Deus, que é lugar de resignação e oração. Por favor, saia!
Dizem que tia Ail saiu sem falar nada. E o pior, ficou ainda mais falada do que nunca.
Mas ela não se emenda...
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A história postada aqui é baseada em fatos reais vivenciados por meus familiares . Desse caso eu me lembrei ao ouvir nos noticiários de ontem o caso da uma menina  convidada a sair da igreja pelo tipo de roupa que usava, o que era muito comum até os anos 70.