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Renatinha gritava feito uma louca. Estávamos todos no quintal. Cada um na sua sombra preferida. Eu lia prazeirosamente José Lins do Rego, o seu famoso Menino de engenho, que Alice de Tia Mariquinhas me emprestou até sábado.
Saímos todos correndo em direção ao pomar de tangerinas. É de lá que os gritos saiam. Será uma cobra? Um cachorro desconhecido? Um doido que invadiu o quintal?
De repente surge Renatinha, toda nervosa e com a mão esquerda respingando sangue. Nos aproximamos e confesso que cheguei a me arrepiar de pavor. Em sua mão havia cravado um espinho. Espinho de laranjeira? Não. Era de tangerina mesmo! Ah! Aquela gulosa tentou passar todo mundo pra trás e acabou se estrepando ...
Acontece que as primeiras tangerinas maduras surgiram num galho bem alto de um pé que fica no fundo do pomar. Havíamos combinado de pegar a vara de bambu que Zefa usa para cutucar as frutas e enquanto um sacudiria o galho, os outros cuidariam de pegar as tangerinas sem deixá-las se esborrachar no chão.
Mas Renatinha, que deveria se chamar Magali, pois é tão gulosa quanto essa personagem infantil, resolveu pegá-las para chupar sozinha e se deu muito mal ...
Não me importo se ela está sofrendo dores, às vezes é necessário um bom susto para se aprender a não ser tão egoísta. Afinal, quem quer subir num pé de tangerina, há de saber que vai encontrar belos espinhos!