E assim mais um dia começou...
Eram pouco mais de cinco e Zefa já coava o café. Vovó estava acordada e apoiada no travesseiro sob a cabeceira da cama, recitava o terço em baixo tom pedindo, a Deus proteção para o dia que se iniciava.
O sol reluzia na janela. É primavera. Os dias agora são mais longos e alegres. Muito sol, flores e pássaros de galho em galho entoam seus cantos.
De repente ouvimos o barulho do portão de entrada se abrindo. Quem poderia ser naquela hora?
Passos leves e um toc-toc na porta ... pronto! Num instante o barulho dos chinelos de Zefa anunciava que havia dado a volta ao redor da casa para atender a porta. Ela bem sabe que abrir a porta da casa nas primeiras horas manhã é coisa que atrapalha quem está dormindo.
- Bom dia Zefa! Esse povo ainda tá durmindo?
Pela fala era Tia Maria. Ela sempre faz isso! Levanta de madrugada e sai para visitar os parentes. Na verdade, nem sei se ela chega a dormir. E se dorme, deve deitar junto com as galinhas, nas primeiras horas do anoitecer!
Foi entrando casa a dentro e direto no quarto da Vovó. Logo falando aquelas coisas que todo mundo sabe que na verdade é para dar um pito, fazer agente sentir vergonha.
Vovó fica muito brava com o jeito dela, mas não consegue demonstrar na hora. Tia Maria é bem mais velha do ela. É a irmã mais velha do meu falecido avô. Cheia de manias e muito, mais muito sistemática. Fica com raiva por qualquer coisa, então, os mais velhos acham que o melhor mesmo é relevar o que ela diz ou faz.
Depois de percorrer todos os quartos e ficar falando que não era preciso levantar por causa dela, seguiu para a cozinha e sentou-se à mesa para tomar o café e prosear. Perguntou a Zefa sobre tudo e todos. Gosta de ter o controle sobre a vida dos parentes.
Aos poucos fomos nos levantando e em pouco tempo todos já estávamos na cozinha escutando suas novidades.
Depois de dar uma volta no quintal, quis algumas mudas de flores do jardim. Sempre leva as mesmas e não sei porque elas nunca pegam...
De tanto andar pelo quintal, pisou em falso e um de seus chinelos arrebentou a correia. Pensamos que teríamos de emprestá-la um calçado, mas de repente ela abriu a sacola e tirou lá de dentro uma outra sacola com uma bolsinha de tecido estampado. Abriu-a e pegou uma agulha bem grossa e um pedaço de barbante. Ajeitou o barbante na agulha e costurou a correia do chinelo...
Então disse:
- Já são mais de 9 hora e eu tenho que i imbora purque tá ficano tardi!
Despediu de todos, e embora vovó tenha feito o convite para o almoço, ela preferiu ir embora, pois seu dia já estava ganho e era hora de se recolher e descansar.