Esse blog é uma homenagem às minhas avós, às avós do meu filho e a todas as mulheres que tem a doce experiência de serem avós. Acredito que no âmbito familiar poucas coisas são tão saudáveis quanto o estar na casa da vovó, desfutar de sua companhia, de seus quitutes e fazer descobertas diárias sobre o mistério que envolve a distãncia entre as coisas do tempo da vovó e a nossa vida cotidiana, principalmente quando somos crianças.

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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A morte do juiz de Capão Bonito



Chegou correndo e assustado. Seus olhos arregalados não escondiam o pavor que estava sentido. Todos ficamos quietos, calados, olhando fixamente para aquele rosto desfigurado, a espera de uma explicação. Ele não conseguia falar. Estava pálido e suava frio. Foi então que Zefa correu até a cozinha e voltou com com um copo d'água para que ele bebesse. Pegou-o pela mão e o acomodou no banquinho debaixo da janela. Tremia ... aos poucos começou a murmurar umas palavras, mas ninguém conseguiu entender nada.

- O que está acontecendo menino? Perguntou Vovó.
- Morreu alguém? Viu assombração? Continuou perguntando.

Nesse momento fez uma sequência de " em nome do pai ". Todos ficamos olhando assutados com a situação de desespero do primo Jorge. Afinal, ele saiu cedo para jogar bola com uns amigos e volta desse jeito!?

Depois da fase aguda dessa crise de pânico, Jorge contou -nos o que havia acontecido e nem acreditei que pudesse ser verdade uma coisa dessas, mas em todo caso, vou ficar bem caladinha para não dizerem que estou abusando da fraqueza alheia. Assim que puder vou perguntar tudinho ao padre João de Deus.

Jorge disse que quando chegou lá no Capão Bonito encontrou o campo vazio. Caminhou até as casas mais próximas para ver se conseguia ter notícias dos amigos que jogam no time. Tinham marcado o jogo para as 10 horas, faltavam 10 minutos e o campo estava vazio. 

No caminho encontrou Sô Lião, um velho que anda todo o vilarejo apoiado na bengala e que sabe de toda aquela gente do lugar. Foi informado da morte do juiz que ia apitar o jogo. Então deduziu que todos estavam no velório e rumou para o lugar indicado. Lá estavam todos os jogadores, os moradores do lugar e padre João de Deus  que para lá foi afim de encomendar a alma do morto.

Enquanto o padre rezava, as filhas de Maria entoavam cantigos funebres, outros sussuravam a reza do terço e uma grande maioria lamentava aquela morte fazendo o tradicional julgamento das boas e más obras praticadas por aquele homem em vida. Uma espécie de julgamento de Osíris.

O padre rezava e salpicava água benta no corpo estendido na velha padiola. Caixão naquelas bandas é para poucos. Começou a benção pelos pés, que alguns, depois do ocorrido, juram terem visto se mexer quando gotas de água fria neles foram salpicadas pelo sacerdote. E foi distribuindo gotas de água benta corpo acima, até que ... quando chegou a vez do rosto deu a brocha para o sacristão molhar enquanto fazia o sinal da cruz sob a cabeça do defunto.

O sacristão, muito distraído, não tirou o excesso d'água da brocha e quando o padre salpicou a água ... deu um banho de água fria no rosto do morto que se levantou na hora, pois não estava morto, estava desfalecido.

Num instante, saiu o sacristão correndo porta a fora e atrás dele metade dos presentes naquele velório. A outra metade saiu pela janela tal como fez o padre. Na confusão, o morto também se assustou e saiu porta a fora correndo, não sabia  ele, dele mesmo ... espalhou gente para todos os cantos. E foi dessa maneira que primo Jorge chegou aqui na na casa da Vovó com jeito de quem havia visto assombração.
E não é que ele viu!?

6 comentários:

Lourdes disse...

Olá Anabela
Nos meus serões na aldeia, quando era criança, o meu avô contava peripécias idênticas, no tempo da pneumónica. Algumas pessoas foram mesmo sepultadas vivas.
Beijinhos
Lourdes

chica disse...

Que causo ,heim? Legal! Tão comuns no interior! beijos,chica

Alvaro Oliveira disse...

Amigta Anabela

Acabadinho de chegar na casa da vóvó. Felizmente que não me encontrava no velório! Porque de contrário, voltaria a ficar ausente não sei quanto. rsrs
Pobre do juiz. rsrs

Beijinhos

Alvaro

Tina disse...

Eu seria uma das pessoas que sairam pelas janelas rsrsrsrsrs
Anabela...já pensou em tranformar a Casa da Vovó em um livro?
seria ótimo
bjs
Tina (MEU CANTINHO NA ROÇA)

Rubens janes disse...

Também, depois dessa quem ficaria?

Zilma Brito disse...

Hahahahahah, adoro "causos". Vc é boanisso heim? Bjinho.