Esse blog é uma homenagem às minhas avós, às avós do meu filho e a todas as mulheres que tem a doce experiência de serem avós. Acredito que no âmbito familiar poucas coisas são tão saudáveis quanto o estar na casa da vovó, desfutar de sua companhia, de seus quitutes e fazer descobertas diárias sobre o mistério que envolve a distãncia entre as coisas do tempo da vovó e a nossa vida cotidiana, principalmente quando somos crianças.

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quinta-feira, 31 de março de 2011

Apenas uma lousa

imagens emule/google

Ela tirou de dentro do baú. Todos nós vimos, mas ninguém falou nada. Pensamos apenas que escolheria uma de nós para presentear com aquela miniatura de quadro-negro. Sim, para nós, à primeira vista, o objeto não passava de uma miniatura de quadro negro, certamente feito para crianças brincarem de escolinha.
Limpou toda a poeira que havia se assentado nele, há anos dentro do baú. Depois pegou uma pontinha de pedra bem afiada e escreveu seu nome. Não gostou da caligrafia e apagou com um pedaço de tecido bem grosso. Escreveu de novo. Desta vez aprovou a escrita com um sorriso nos lábios. Em seguida olhou para nós como se estivesse admirada com o nosso silêncio. Disse:
- É a lousa do meu tempo de menina de grupo escolar.
Perguntei-lhe:
- A professora escrevia num quadro desse tamanhinho?
Com um novo sorriso vovó respondeu-me:
- Não, esse era meu. Cada aluno tinha a sua lousa para copiar o que a mestra passava na lousa da parede.
Fiquei em silêncio e, trocando olhares com os outros... Como poderia? Escrever e apagar? E como faziam para estudar em casa? 
Vovó parece ter  lido meu pensamento e logo explicou:
- Naquele tempo não havia cadernos e nem livros para alunos pobres. A mestra ensinava e, quem não decorasse a lição, ia envelhecendo no banco da escola...

terça-feira, 22 de março de 2011

Quem liga se ela desaparecer?

Sabemos que o homem sempre se estabeleceu em locais próximos aos rios e mares, para garantir seu sustento através da agricultura. A história do Egito é uma excelente demonstração desse fato, quando os homens, às margens do rio Nilo, organizaram um próspero aglomerado humano.
Com o passar do tempo, a humanidade evoluiu, mas água passou a ser tratada com desrespeito, sendo poluída e desperdiçada.
Aqui na casa da vovó, temos algumas nascentes no quintal. Desde pequenos, somos orientados a não poluir o curso d'água e a ajudar na preservação da vegetação que margeia seu leito. É um córrego pequeno, mas é dele que tiramos a água usada na horta, para matar a sede dos animais, para lavar nossas roupas, para limpar a casa, tomarmos banho e muitas outras coisas.
Quando faz muito calor, podemos nos refrescar no poço fundo, que fica bem na divisa entre o quintal e o pasto. É uma delícia!!!
Hoje, depois da aula, fui lá na loja do Ruizinho. É um comércio cheio de coisas variadas. Vi um jornal dependurado logo na entrada. Parei para ler as notícias e, na primeira página havia uma enorme foto do rio São Francisco,com os seguintes dizeres: Dia Mundial da água. Li o texto sobre a matéria. Descobri que hoje, 22 de março, é o Dia Mundial da água! Pouca gente se deu conta disso. Nem a minha professora comentou sobre o assunto. Se não fosse o jornal que Ruizinho dependurou na parede da loja, eu não ficaria sabendo disso... Pobre água! Quem liga se ela desaparecer???

domingo, 20 de março de 2011

Uma Super-Lua visita a vovó



A visita de hoje, chegou ontem.
Feito deusa, veio toda prateada!
Cheia de brilho e bem norteada.
Era enorme ... igual a ninguém! 
Foi uma Lua diferente de todas.
Uma Super-Lua que vale por dois.
Igual a esta, só passados vinte anos
depois! 

sábado, 12 de março de 2011

Esmola para São José

 Imagem de http://catequesesaojose.blogspot.com/2010_03_01_archive.html

É costume aqui na região, que os membros da irmandade tirem esmolas para a festa do santo. Isso acontece nos dias que antecedem o grande dia festivo, durante a novena. Este mês o santo que reúne o maior número de devotos é São José. Operário, porque trabalhava de carpinteiro e então é rogado pelos trabalhadores; esposo de Maria e pai adotivo de Jesus, portanto, pai de família exemplar e venerado pelos esposos.
Aqui é mais conhecido como São  José do Barreiro Velho. Conta os antigos, que morava lá Barreiro Velho um homem conhecido como Zeca do Pote, por ser ele um fazedor de potes de barro. Certa época, ele foi acometido de um mal nas pernas, devido aos movimentos constantes de amassar o barro com os pés para fazer suas artes. Pegou um tipo de bexiga que comia-lhe a pele de maneira assustadora.
As pessoas se afastaram dele por causa do mal cheiro nas bexigas, exceto o sacristão, enviado semanalmente pelo padre para ler passagens da Bíblia e entregar-lhe a comunhão.
Foi então que o tal sacristão, cansado de ter que fazer a penitência que lh incumbira o padre, sugeriu ao Zeca do Pote que fizesse uma promessa para o seu santo de devoção. Como não tinha confiança em nenhum santo em especial, o homem resolveu pedir ajuda ao que tinha o mesmo nome que o seu, José.
Batata! Foi rezar e conseguir o milagre. Ficou livre das bexigas e voltou ao trabalho. Uma vez recuperado tratou logo de cumprir a promessa que havia feito. Construiu uma capela em homenagem a São José. A história se espalhou e o povo começou a fazer romarias para lá.
O primeiro nome de devoção do santo foi  São José do Barreiro, porque naquele tempo o arraial chamava-se apenas Barreiro, mas com a descoberta de um novo barreiro pelos fabricantes de objetos de barro, o povo foi logo chamando o lugar de Barreiro Novo e, o local onde está a capela de São José  virou Barreiro Velho.
Então, como eu ia dizendo, hoje vieram tirar as esmolas de São José. Um grupo de mais ou menos umas  trinta pessoas que carregando a imagem do santo e que certamente iria aumentar no percurso. Eles entram nas casas, rezam e recebem as doações dos proprietários. Pode ser dinheiro, prendas para leilão ou quitandas para as barraquinhas. As doações seguem na carroça e o povo a pé, debaixo do sol quente, levantando a poeira vermelha da estrada.
Vovó, como é muito generosa, dá um pouquinho de tudo. Dinheiro, galinhas, ovos, doces e desta vez até um leitão da porca Rosa.  Um daqueles que os arrematadores vão disputar centavo por centavo... 





Obs: O poema é de Zé Laurentino, poeta e cordelista paraibano. A narração é de Rolando Boldrin.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Tem um disco de vinil no baú da vovó

Como a porta do quarto dos segredos estava aberta, logo entrei um tanto quanto cabisbaixa porque vovó estava muito quieta, calada e abraçada a um disco de vinil muito antigo. Logo notei que só poderia ser uma recordação de vovô. Ela sempre fica assim quando se lembra dele.
Sentei-me do seu lado e fiquei em silêncio. Ela passou a mão nos meus cabelos e me deu um beijo carinhoso. Seus olhos estavam molhados. Cheios de lágrimas. Nem precisa perguntar o motivo.
Logo em seguida chegaram Felipe e Renatinha. Só de olharem para mim entenderam o que se passava ali. Zefa também olhou desconfiada lá do corredor, mas foi embora para não causar mais tristeza.
De repende vovó disse:
- É um disco muito antigo que encontrei aqui no baú. Há muito tempo estava procurando por ele e hoje o encontrei aqui bem no meio desses porta retratos. Foi o avô de vocês que me  deu de presente quando ainda éramos jovens e apaixonados. Não sei se choro mais por ele ou pela bela voz de Dalva de Oliveira.
Nada falamos. Não sabemos quase nada sobre a cantora. Aquele disco muito antigo pareceu-nos estranho. Abraçamos vovó e saímos sem querer mexer no velho baú, que hoje estava bem aberto e revirado.
Minutos depois ouvimos o som daquelas músicas antigas saindo da velha vitrola.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Credo em cruz! Deus me livre ...





O quintal hoje está silenciosos. Ninguém atreveu-se a correr e aprontar gritaria. É quarta-feira de cinzas. Até o meio dia só nos foi permitido tomar o café da manhã, mesmo assim depois que chegamos da igreja. Todos fazem jejum.
Fomos à primeira missa na matriz. Padre Toledo celebrou em latim, como faz sempre durante a quaresma. Recebemos cinza na cabeça, em forma de cruz. Ele disse que é para purificar a nossa alma e despertar a nossa humildade pois, como Adão viemos do pó e  pó nos tornaremos após a morte.
Começou hoje a quaresma, tempo de muita reza bonita. Toda sexta-feira participaremos da via-sacra nas chácaras do caminho até a vila. Na casa de vovó é rezada a sexta estação e nós seguimos até a última que é na praça da matriz.
Como é muita gente, não fico com medo de andar no escuro. É que nesses próximos dias pode aparecer o que muita gente por aqui afirma de pé junto que já viu: lobisomem e mula sem cabeça.  
Na casa branca depois do mata-burro de baixo, mora uma mulher que teve sete filhos homens e, o caçula, dizem que uiva a madrugada inteira pelo pasto ... Credo em cruz! Deus me livre de encontrar com uma coisa dessas!

domingo, 6 de março de 2011

Delíciosas rosquinhas de farinha de trigo

Hoje é domingo de Carnaval. Todos saímos bem cedo para o centro da cidade. É domingo dos cordões de marchinhas carnavalescas. Coisa antiga, mas muito legal de se ver e participar. Tomamos um café bem reforçado e não viemos almoçar em casa. Por isso vovó descansou da tarefa de fazer o almoço de domingo. Descansou em parte, porque ela não pára de inventar coisas para fazer. Veja só o que ela fez para nós comermos com um cafezinho quentinho feito por Zefa: *rosquinhas de farinha de trigo!



Ingredientes:

1kg de farinha de trigo com fermento
2 ovos
leite
4 colheres de manteiga
1 xícara de açúcar
1/4 de queijo ralado

Modo de fazer:

Bata os ovos com o açúcar e a manteiga, acrescente o queijo, a farinha de trigo e um pouco de leite. Amasse e vá pingando leite e amassando até a massa ficar com a conscistência própria para enrolar as rosquinhas. O ponto ideal é quando não está grudando mais nas mãos. Deixe descasar por  30 minutos. Enrole as rosquinhas e coloque em tabuleiro untado com manteiga. Asse em forno quente até ficarem coradas. 

* Essa receita é da avó do meu filho. Ele a ajudou fazer as rosquinhas ... Vejam só como ele deve ter se divertido ... enrolou cada modelo! 


quarta-feira, 2 de março de 2011

Lamparina, um cão amigo!

Cachorro Vira Lata
imagem baixaki

O contato com os animais contribui para o nosso bem estar. Hoje, tive a prova disso. Aqui no quintal da vovó tem um bichinho muito especial, é o Lamparina. Ele veio para cá atrás de Zefa, quando ela foi colher arnica lá no Capão de Cima e levou matula para Renatinha que se empenhou em fazer-lhe companhia.
Lamparina vagava pelo mato, sentiu cheiro da comida e veio atrás delas. Foi ficando e ganhou a afeição de todos.É um vira-lata todo engraçadinho, de pelo bem liso e preto, olhos vivos e muito esperto. Dá sinal de tudo. Late muito à noite, mas fica uma fera quando vê passando na estrada Sô Zeca da mula manca. Aí, ele late até perder a voz, correndo atrás da mula ...Gosto muito do Lamparina e, hoje ele não arredou-se de perto de mim. Deitei-me na rede debaixo da mangueira velha, ali ele ficou bem quietinho me olhando e quando eu olhava ele balançava o rabo querendo me consolar. Sentiu que eu estava triste. É que vovó amanheceu doente e tiveram que levá-la para o hospital de Piteiras Novas, às pressas. Estou preocupada em saber notícias, mas sei que tenho Lamparina com seu jeito de cachorro amigo, pronto para me apoiar nesse momento de grande tristeza.