Esse blog é uma homenagem às minhas avós, às avós do meu filho e a todas as mulheres que tem a doce experiência de serem avós. Acredito que no âmbito familiar poucas coisas são tão saudáveis quanto o estar na casa da vovó, desfutar de sua companhia, de seus quitutes e fazer descobertas diárias sobre o mistério que envolve a distãncia entre as coisas do tempo da vovó e a nossa vida cotidiana, principalmente quando somos crianças.

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domingo, 8 de julho de 2012

Bafafá na praça

E tudo aconteceu assim...
O dia mal tinha amanhecido e um alvoroço muito grande acontecia na praça. Todos corremos para ver o que havia de certo ou  errado que reunia tanta gente e num trololó danado. Vovó não gostou da nossa curiosidade e foi logo dando seu palpite certeiro:
- É coisa de Terninho ...
Terninho é o apelido de João dos Moreira. Um sujeito metido a valentão, que só anda de terno engomado, usa um sapato maior que seu pé e um chapéu de feltro cinza todo esfarrapado.Sempre que alguém se mete a debochar de seus sapatos ele parte pra cima com toda raiva do mundo.
Não demorou muito e ficamos sabendo que desta vez o desafeto partiu de Bendito, um outro tipo valente que adora se meter na vida alheia. De longe ouvia-se os desatinos.
- Tá me chamando de pé grande?   
- Imagine ... O seu sapa ...
- É grande o suficiente para esmagar cabeça de cobra. Seu Bendituçu ....
E Terninho não parava de falar até que por um instante, do nada, fica mudo e de olhar fixo para o fundo da praça. 
Todos olham naquela direção, mas ninguém se atreve a dizer uma palavra. Lá está ela! Dona Roxona! 
Sim, ela que antes era conhecida por Quitéria de Inácio, agora é dona Roxona, por andar  usando roupas roxas desde que se tornou viúva de Inácio Cortez.
É ela o único amor da vida de Terninho. Amor não correspondido. 
Na verdade, ele nunca teve coragem de se declarar a ela. Pensava que uma mulher tão linda não haveria de querer um boçal como ele, com aqueles sapatos grandes e um chapéu surrado cobrindo-lhe a cabeleira despenteada.  
E assim, como um toque de mágica, Terninho foi se recompondo e se preparando para a chegada de sua amada. Bonita, mesmo naquele vestido roxo! Passou com um sorriso fosco, seguindo o som do sino da matriz.  
Bendito que não é bobo, foi saindo de mansinho antes que a dama passasse e o bafafá voltasse a pegar fogo. 
O povo acostumado, mas nem por isso desatento ao fato, também foi esvaziando a praça. E terninho, mais uma vez sentou-se no banco da praça à espera da missa acabar...

6 comentários:

chica disse...

rssss,,,esses casos são legais e bafafás acontecem...beijos,lindo fds!chica

Imaginário disse...

Demorei, mas vim. E valeu a pena, como sempre. Você tem um texto lindo, Anabela (acho que já disse isso - estou ficando velho e caquético, tudo que eu não queria). Juro,adorei e peço que faça mais isso. Olha, bafafá, trololó, Dona Roxona, Bendituçu, ver o que havia de certo ou errado, a valentia que sai da boçalidade, ovalentão terninho, o ritmo... Repara uma coisa: a única novidade é o bafafá de hoje (pra vocês, que pra Vovó nem este é) - tudo é conhecido no lugar, o que nos leva para um tempo em a vida era vivida diante de todos mesmo.
Não vou ficar falando de seu texto simplesmente apaixonante. Apenas isto: ele tem a simplicidade (univeral) do fundo da alma de nossa terra. Você consegue trazer isso para cá.
Eu agradeço. Boa semana, de Paz.
Gilson.

Evanir disse...

Creio que não exite coisa melhor do que a casa da vovó.
A muito não tenho mais a minha era uma festa juntar os netos aquele almoço gostoso da vovó italiana.
Quando tempo se passou hoje a vovó sou eu sem dizer que minha bisneta nasceu no Dia 1 de Julho.
Nos dias de hoje é muito diferente já não existe a tradição de tudo ser na casa da vovó.
Pelo menos aqui não é assim sinto muitas saudades daqueles Domingos felizes da minha infância.
Foi um prazer enorme conhecer seu blog e seguir você.
Uma linda quarta beijos,Evanir.

Anabela Jardim disse...

Chica,
Obrigada por estar sempre nos prestigiando com sua agradável visita.

Anabela Jardim disse...

Imaginário,
Agradeço os elogios ao meu texto.Esse blog é uma forma de manter vivas algumas lembranças do que vi e ouvi sobre nossos hábitos no passado. Algumas passagens são fatos ocorridos, outras imaginárias dentro de uma realidade saudosista.

Anabela Jardim disse...

Evanir,
Seja benvinda!
Realmente os encontros na casa das avós são hoje bem escassos. Talvez porque as avós de hoje tem outras prioridades e não forcem essas reuniões.
Sinto saudades de quando minha avó reunia seus mais de sessenta netos em torno de sua mesa farta, de suas rezas e de seus causos.