Esse blog é uma homenagem às minhas avós, às avós do meu filho e a todas as mulheres que tem a doce experiência de serem avós. Acredito que no âmbito familiar poucas coisas são tão saudáveis quanto o estar na casa da vovó, desfutar de sua companhia, de seus quitutes e fazer descobertas diárias sobre o mistério que envolve a distãncia entre as coisas do tempo da vovó e a nossa vida cotidiana, principalmente quando somos crianças.

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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Revistas proibidas






Com tanta sombra no quintal, nesses dias quente, o melhor que podemos fazer é ficar brincando num lugar bem fresquinho e de tempo em tempo lavamos o rosto e os pés no rego d'água.
Chegaram nossos primos lá de Bocaiúva. Vieram passar uma semana com vovó. Marta é nossa prima mais velha, já fez dezesseis anos e não quer saber de brincar de casinha ou outra coisa que ela diz ser diversão para criança. Vovó disse que não é para insistir com ela. Então, estamos brincando com Sarinha e Caetano que são da nossa idade. 
Marta sempre se deita na rede debaixo da parreira de chuchu e fica lendo um livro da enciclopédia que tia Zirinha deixou aqui quando se casou. Eu sempre olho para ela e  fico imaginando o que ela tanto lê naquele livro antigo. Hoje descobri o que era. Fiquei sabendo de um geito tão surpreendente que até fiquei com dó de Marta.
Meu tio Geraldo pára de trabalhar mais cedo todos os dias e vai para o bar. Bebe muito, vem para casa e dorme até o outro dia amanhecer. Por mais que vovó peça a ele para não fazer isso, ele continua bebendo e até já foi largado pela mulher que não aguentou uma vida tão sem compromisso como a do meu tio Geraldo.
Essa tarde, não sei por que ele veio direto para casa. Com a má sorte de Marta, ele chegou de mansinho perto da rede para ver o que ela estava lendo e foi logo arrancando-lhe o livro das mãos.
- Que pouca vergonha! Disse ele a Marta.
- O que é que eu fiz? Me dá o livro aí! Vovó! Vovó! Gritou Marta.
Assim que ouviram a gritaria todos correram para o quintal. Nós chegamos bem pertinho e ficamos olhando e nos cutucando uns aos outros. Marta continuava na rede, bem sentadinha com cara de menina inocente.
- Levanta daí menina! Gritou tio Geraldo.
- Que gritaria é essa? Anda vai lá para dentro. Disse vovó à Marta.
Marta abaixou a cabeça e levantou-se. Na rede estavam quatro revistas escondidas debaixo do seu corpo. Eram as revistas proibidas que ficavam no quarto de tia Lia. Só ela podia ler aquelas revistas e Marta as pegou. E agora? Quando tia Lia chegar e ficar sabendo vai contar tudo para meus tios, pais de Marta.Coitada da minha prima, vai tomar uma surra!
As revistas são para maiores de dezoito anos e Marta ainda tem dezesseis. Dizem que são cheias de histórias proibidas. Tem até um nome especial: fotonovelas. Histórias de gente que até beijo na boca tem coragem de dar.
Eu nunca li e nem quero lê essas revistas cheias de pecado. Só sei que elas tem pecado porque já ouvi uma conversa de tia Zirinha com mamãe sobre o tal Almanaque Capricho de Fotonovelas.
Depois dessa confusão toda, vovó mandou todos nós sentarmos na varanda da cozinha para esperar o jantar.



Um comentário:

Emília Pinto disse...

Nossa!!! Sabes que a revista capricho é do meu tempo? Adoravamos ler essas novelinhas. Também, que outra coisa poderiamos fazer? Não havia nada na nossa aldeia. Aos Domingos, a minha mãe obrigava-me a ir à missa; tinha eu uns 15 anos. Sabes o que eu fazia? Ia até a casa de uma amiga que hoje é minha cunhada e que morava a caminho da Igreja e ficavamos as duas a ler Cprichos até à hora de acabar a missa; quando acabava eu voltava para casa e a minha cunhada também. Depois acabei contando à minha mãe e esta deixou de me obrigar; só ia à missa quando eu quisesse. Um beijinho e obrigada por lembrares estas coisas do passado. Um bom fim de semana
Emília